Osny

11 de março: há uma década tsunami devastava nordeste do Japão


Recordo a minha participação na caravana Brasil Solidário, em 11 de março de 2012, exatamente um ano após a tragédia, para expressar nossos sentimentos de condolências na cerimônia em memória às vítimas em Sendai



Ao chegar em Sendai, a região mais castigada pelo tsunami, o frio e o vento nos deram as boas vindas. Imaginei o quanto foi doloroso para os desabrigados serem arrastados por ondas gélidas e gigantescas. Foi essa a primeira impressão deste cenário devastado.

Da janela do ônibus, avistei terrenos quadriláteros cheios de água. Seriam plantações de arroz?? Mas ao limpar o vidro embaçado, percebi que eram os restantes dos alicerces das casas. Tudo fora levado pelas ondas, só os alicerces testemunhavam que lá havia uma casa com famíla (foto abaixo).



Vi um senhor sentado, fumando e bebendo num terreno baldio! Certamente outrora lá seria sua moradia, talvez lá fosse sua sala de estar (foto abaixo).



Barcos e navios ancoravam em plena avenida, distantes dos locais onde deveriam estar, atracados nos portos (fotos abaixo).




Tal cenário me lembrou de passagens bíblicas, da Arca de Noé, do Deus irado a castigar o mundo com um dilúvio. Questionei Deus!!! Meu bom Deus!! Que culpa tiveram as crianças, idosos, mulheres, pais de famílias, para serem arrastados por esse mar bravio?

Ninguém gosta de relembrar de um passado triste, porém jamais conseguiremos deletar de nossa memória a tragédia da região Tohoku, o nordeste do Japão.

11 de março de 2011, completa-se uma década desde aquele fatídico terremoto de magnitude 9.0 seguido de tsunami, considerado um dos maiores desastres naturais do Japão.

No dia 11 de março de 2012, participei da caravana de brasileiros (fotos abaixo) que seguiu para Sendai, província de Miyagi (região mais castigada, com 9.543 mortes) para expressar os sentimentos de condolências na cerimônia de um ano em memória às vítimas.



A caravana foi uma iniciativa do Movimento Brasil Solidário, com apoio da Embaixada do Brasil que fretou dois ônibus para a viagem. Um ônibus partiu de Nagoia (Aichi) e passou por Hamamatsu (Shizuoka) às 03h da madrugada para recolher o pessoal local. O outro saiu da Embaixada do Brasil, em Tóquio.



Antes de partir para Sendai, uma missa foi celebrada no auditório da Embaixada. O embaixador Marcos Bezerra Abbott Galvão acendeu uma tocha, símbolo do sentimento de condolência do povo brasileiro.

Embaixador Abbott Galvão (esq.) com Shinji Mogi e o fogo para acender candelabros

Shinji Mogi, líder do Movimento Brasil Solidário, tinha ido nove vezes à região de Tohoku para prestar serviços voluntários e entregar donativos. Ele foi um dos primeiros brasileiros a oferecer auxílio, porque trabalha no ramo de construção e levou máquinas para ajudar no recolhimento dos destroços.

“Desta vez não vamos levar mantimentos para doações, pois se trata de uma data em memória às vítimas. Antes de partir para Sendai, vamos celebrar uma missa no auditório da Embaixada do Brasil em Tóquio. Acenderemos uma tocha representando as condolências do povo brasileiro e a levaremos até Sendai, onde vamos acender cerca de 100 candelabros de bambu” (fotos abaixo).




A caravana seguiu para Natori, ao sul de Sendai, no monte Hiyoriyama onde foram plantadas três mudas de ipê-roxo e um pinheiro do Paraná, aclimatadas no Japão por um botânico japonês que fez a doação (fotos abaixo).



Acendemos mais candelabros, ficamos em círculos e todos entoamos a canção do Mílton Nascimento, Coração de Estudante (foto).



A visão desse monte impressionava, com o horizonte e a vista para o mar a metros de distância. Sobras dos alicerces, do que outrora foram moradias, enfeitavam a paisagem devastada (foto).



Este pequeno santuário Hiyoriyama (日 和 山) significa o seguinte: “Yama” é “montanha” e “Hiyori” se refere ao sol brilhando nos navios. Em outras palavras, “bom tempo para navegar”, porém, o destino foi irônico e cruel com esse monte construído artificialmente. Muitas pessoas subiram nele como refúgio durante a inundação, mas as ondas foram muito mais altas arrastando a tudo e a todos …




Quando visitamos esse monte, os arredores estavam cobertos de entulhos, tão altos quando o próprio monte Hiyoriyama (foto).



No dia 17 de outubro de 2011, cerca de oito meses após o tsunami, um ilustre visitante, o Rei Pelé, esteve no monte Hiyoriyma para prestar suas condolências às vítimas locais.

O evento oficial contou ainda com o badalar de sinos e orações em diversos locais da municipalidade.

O então primeiro-ministro Yoshihiko Noda solicitou à população japonesa um minuto de silêncio às 14h46, horário exato em que ocorreu o terremoto seguido de tsunami. Ele disse que o ato é conveniente como forma de homenagem e respeito às vítimas da tragédia.



Assim foram celebradas o primeiro aniversário do tsunami que matou milhares de pessoas, desencadeou uma crise nuclear em Fukushima e destruiu a confiança do seu povo na energia atômica e nos líderes da nação.

Segundo informe mais recente da Agência Nacional de Polícia do Japão, divulgado em 10 de dezembro de 2020, o terremoto seguido de tsunami deixou um saldo de:

15.899 mortes
2.527 desaparecidos
6.157 feridos
121.992 propriedades totalmente destruídas
730.392 propriedades parcialmente destruídas
297 propriedades destruídas por incêndio
207 deslizamentos de terras
4.198 estradas destruídas
116 pontes destruídas
29 ferrovias destruídas
45 diques destruídos




OSNY ARASHIRO – Jornalista, no Japão desde 1995, cobriu Copa do Mundo (França 1998, Japão/Coreia 2002) e 15 Mundiais de Clube. Metaleiro, roqueiro, pagodeiro e outros “eiros” …

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